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sábado, 6 de julho de 2013

Políticos do alto clero debocham das manifestações e cospem nas leis



Mesmo pressionados e atordoados pelas recentes manifestações do povo nas ruas país afora, os políticos não conseguem largar o hábito ancestral de exercitar o mandonismo desenfreado.
No auge dos protestos populares eis que dois políticos, os mais importantes do legislativo pátrio, Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves, presidentes do senado e da câmara dos deputados respectivamente, tratam de esculachar com a ideia de que todos são iguais perante a lei. Em ambos os episódios que os dois mandachuvas se envolveram, as coincidências, os discursos e as atitudes são espantosamente idênticas:
1 – Os dois próceres da república cometeram ilegalidades idênticas, uma vez que usaram aviões da FAB para suas mordomias particulares, em total desacordo com o Decreto 4244 de 2002;
2 – Ambos fizeram pronunciamentos dignos de Alice no País das Maravilhas, pois quem comete ilícito não pode ter o poder de dizer como vai resolver o problema.
Neste último quesito, eles destoaram um pouco, pois enquanto o deputado Henrique Eduardo disse que pagava, o seu colega mordômico bateu pé e disse que não pagava coisa nenhuma. Segundo noticiado, o Renan Calheiros foi além e disse que a Lei não era clara e que ia providenciar o seu aclaramento através do Conselho de Transparência (do Senado). No dia seguinte, engoliu o orgulho (para salvar os dedos?) e anunciou meia volta volver e anunciou que vai pagar a farra aérea.
Imaginemos um cidadão comum sendo flagrado em delito e reagir dizendo que pagava (ou não) pelas árvores que derrubou e que a lei sobre este tipo de crime não é clara o suficiente.
O jornalista Merval Pereira foi feliz ao afirmar que o Calheiros continua mantendo os “seus hábitos de coronel da política”, mas a questão é bem mais séria do que o coronelismo explícito dos poderosos, pois que atinge as bases da democracia e do Estado de Direito. Os presidentes das duas casas legislativas demonstraram que acreditam estarem acima de tudo e de todos e que não estão submetidos a nenhum constrangimento legal, e que resolveram pagar os passeios “fabianos” porque assim decidiram as suas plenipotenciárias vontades.

PS: Na sexta-feira, “Renan Calheiros (PMDB-AL), informou que devolveria R$ 32 mil referentes à viagem em voo da FAB para acompanhar o casamento de uma filha do líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM)”. A pergunta que não quer calar: Num país de miseráveis e bestializados, um senador que gasta a merreca de 32 mil reais, só de transporte, para ir a um casamento, deve ser muito rico, pois não?

ECOS DE LEMÚRIA -Marcelo Cavalcante



Desperto confuso e me encontro
no eixo do mundo
num feixe de perguntas
fico sem pai nem mãe
nesta coivara,
nesta miséria,
neste mesmo laço de bem e mal.

Disperso o sono e vejo
outro lixo terrestre
em páginas antigas
de um livro mais antigo
num outro Saara,
numa outra Sibéria,
neste vasto espaço sideral.

Confesso o abuso e me espanto
com o piche imundo
num nicho de assuntos
prolixos de falas vãs,
neste tugúrio,
nesta Lemúria,
nesta velha nave não espacial.




sexta-feira, 5 de julho de 2013

A canção do africano - Castro Alves


Lá na úmida senzala, Sentado na estreita sala, Junto ao braseiro, no chão, Entoa o escravo o seu canto, E ao cantar correm-lhe em pranto Saudades do seu torrão ... De um lado, uma negra escrava Os olhos no filho crava, 
Que tem no colo a embalar... E à meia voz lá responde Ao canto, e o filhinho esconde, 
Talvez pra não o escutar! "Minha terra é lá bem longe, Das bandas de onde o sol vem; 
Esta terra é mais bonita, Mas à outra eu quero bem! "0 sol faz lá tudo em fogo, 
Faz em brasa toda a areia; Ninguém sabe como é belo Ver de tarde a papa-ceia! "Aquelas terras tão grandes, 
Tão compridas como o mar, Com suas poucas palmeiras Dão vontade de pensar ... "Lá todos vivem felizes, 
Todos dançam no terreiro; A gente lá não se vende Como aqui, só por dinheiro". O escravo calou a fala, Porque na úmida sala O fogo estava a apagar;
 E a escrava acabou seu canto, Pra não acordar com o pranto O seu filhinho a sonhar!

quinta-feira, 4 de julho de 2013

AMANHÃS

Sobre cachimbos e bocas tortas




A verdade é que neste país de pau de tinta, desde as Capitanias Hereditárias, os privilégios e a impunidade se ampliaram e, de forma descarada, acabaram por ganhar foros de coisas naturais.
Os jabarandaias da pátria ultrapassaram os limites do razoável e, neste patamar patrimonialista, não mais é suficiente o ordinário usufruir dos privilégios e ter a certeza da impunidade. Inovaram e, nessa sanha de demonstrar poder (acima das leis e da moralidade), passaram a incluir no cardápio de mazelas públicas, a tara sádica de esfregar na cara do povão estes privilégios devidamente embalados em descarada impunidade.
Mesmo com o povo nas ruas diuturnamente, o nosso bravo presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves incorre em crime (capitulado em Lei), para atender desejos fúteis (assistir jogo de futebol com parentes e aderentes).Ocorre que a imprensa noticiou e a coisa não passou em brancas nuvens.
Uma vez constatado o crime, o presidente da Câmara simplesmente toma As rédeas do processo e, ao invés de ser questionado pelo poder público, diz como o assunto será resolvido. Através de nota, ele informa aos brasileiros e brasileiras que:

Nota de esclarecimento do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves
O deputado Henrique Eduardo Alves ordenou ao seu gabinete parlamentar que fizesse o imediato recolhimento aos cofres públicos dos valores correspondentes às passagens Natal-Rio-Natal, relativos à carona oferecida em avião da FAB, por disponibilidade de assentos, a familiares, dias 28 e 30 de junho.
O deputado Henrique Eduardo Alves esteve no Rio de Janeiro cumprindo agenda previamente acertada com o prefeito da cidade, Eduardo Paes. No sábado, 29, os dois participaram de uma reunião almoço, na residência oficial, na Gávea Pequena.
O presidente reconhece que a concessão da carona foi um equívoco e que, por dever, imediatamente, o corrige.

Olhando anota do deputado, até parece que ele nos apresentou uma solução razoável, mas a coisa é mais do que aparenta, pois não é assim que a lei atua quando se trata de cidadãos comuns, ou seja, de segunda categoria.
Imaginemos um cidadão que cometeu o “equívoco” de derrubar 2 árvores no seu quintal e IBAMA descobre. O cidadão, mais que depressa toma as rédeas da situação, e emite uma nota informado que vai ressarcir os danos, corrigindo o seu erro. Só que a coisa não é assim, este cidadão é multado, tem a área embargada e responderá infalivelmente a um processo criminal.
Nestes casos, temos duas situações criminais que são resolvidas através de formas assimétricas. O deputado diz como vai fazer para corrigir o “erro” e, desta forma, não se submete à lei, enquanto o cidadão fica calado, e, por seu “crime” é submetido aos ditames da lei.
Não nos esqueçamos de que um cidadão acusado do furto de um quilo de farinha, não pode simplesmente pagar o valor do furto e ir assistir impunemente a brasilidade em campos de futebol. Não faz muitos anos, uma mulher pobre foi condenada (e cumpriu) anos de cadeia por ter furtado uma lata de doce de um supermercado.

Marcelo Cavalcante

A felicidade segundo Tim Tones - Homenagem a Chico Anysio - Humor