Total de visualizações de página

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Súcia - Col. Tormenta -




Col Tormenta, já pode ser considerado um escritor experiente, uma vez que o presente livro é o seu quarto publicado. Não obstante, continua perseverando na produção de uma literatura pessoal, intransferível e inquietante, infensa aos manuais e esquemas de uma literatura politicamente correta, onde a correção gramatical suplanta as mensagens de conteúdos. Visceral, Cícero de Oliveira Lima, adotou o heterônimo mais condizente com a sua recorrente temática: a vida dos atormentados nesse mundão de meu Deus. Daí podermos avaliar e concluir que Col Tormenta significa bem mais que uma escolha aleatória ou opção estética.
Desafiando as imensas dificuldades que se apresentam aos novos escritores, eis que ele nos surpreende com este seu mais novo rebento, como sempre, um nascituro de parto difícil, concebido nos mais tenebrosos recônditos da alma humana. Súcia, como as suas obras anteriores, não é uma construção direcionada ao desavisado leitor que busca apenas umas horas de prazer descompromissado e muito menos um cenário onde pululam a literatice fútil dos autores enfastiados com o próprio ofício de tecer frouxas tramas e falsos dramas.
Em verdade, ler Súcia é se submeter ao desconforto e abdicar do falso sentimento de segurança que inconscientemente temos a tendência de construir no entorno de nossas consciências, inquietas pelo confronto com um mundo desencontrado e prenhe de realidades imprecisas. É não ser indiferente e mergulhar num abismo de vicissitudes humanas.
O autor estruturou esta obra em cinco contos, sendo que o primeiro (Súcia, que dá o titulo à mesma), por sua extensão, adquire contornos de uma novela ou quase um romance. Todos os textos estão impregnados com o universo Col Tormentiano, seco, direto e áspero, porém sincero como a transparência de diamante verdadeiro.
Particularmente, o conto "Louco por conveniência" foi o que mais me agradou, exatamente por ter sido aquele que maior desassossego transmitiu a esta minha alma já velha e calejada por tantas e quantas mazelas humanas.

Marcelo Cavalcante



domingo, 25 de agosto de 2013

A chicana e a hipocrisia institucionalizadas

 



 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Neste país de tantos desmandos, tantos o são que uma hora, mesmo os portentosos, com musculatura para desmandar acabam se desentendendo. Não sabemos ainda se tais – raros e ocasionais – arranca-rabos entre os poderosos tem como motivação algum insondável limite ético para a descaração desabrida ou se apenas ocorrem quando interesses determinados são contrariados.

Dessa feita a porradaria verbal teve como cenário o Supremo Tribunal Federal, no transcurso do julgamento do mensalão. Eis que suas excelências os ministros estão a julgar o rescaldo das decisões tomadas (embargos), e tal etapa tem o poder de decidir sobre as penas aplicadas aos réus, principalmente aquelas que representam prisão inapelável.

No transcurso de todo o julgamento, a postura do ministro Ricardo Lewandowski aparenta estar desempenhando um trabalho de advogado dos réus e não de juiz, e isto seria coerente caso resolvesse fazer chicana. Na prática, o que acabou acontecendo foi o ministro Lewandowski levantar uma questão que não fazia muito sentido naquela altura do campeonato e ser acusado de chicaneiro pelo presidente da casa, ministro Joaquim Barbosa. Pronto, a buchada de bode estava servida para os portadores de estômagos delicados.

Sentindo-se desrespeitado, o ministro exigiu retratação e o presidente não se retratou. A solução para tal impasse foi encontrada através do jeitinho brasileiro: dois ministros (Celso de Mello e Marco Aurélio) discursaram enaltecendo o ministro chicaneiro, estando presente no plenário o ministro-presidente que fizera a acusação/ofensa de forma irretratável.

Ainda sobre a lavagem da honra representantes da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) emitiram nota conjunta criticando o uso do termo. Sem citar o nome de Joaquim Barbosa, a nota tem como ideia central que "A insinuação de que um colega de Tribunal estaria a fazer 'chicanas' não é tratamento adequado a um membro da Suprema Corte brasileira. Esse tipo de atitude não contribui para o debate e pode influir negativamente para o conceito que se possa ter do próprio tribunal, pilar do Estado Democrático de Direito".

O que fica muito estranho é a agilidade dessas associações em repudiar o uso de uma palavra e, em nenhum momento estarem preocupadas se está havendo ou não chicanas no curso desse rumoroso processo. Parece que os nossos magistrados estão mais preocupados com a forma do que com o conteúdo.

O que tudo indica é que um ministro do Supremo acusou publicamente um seu colega de chicaneiro e nadica de nada vai acontecer, como ocorre quando um vizinho chama outro de corno e ninguém se mexe, pois eles estão carecas de saber das estripulias das mulheres da rua, inclusive das próprias.

De toda sorte, este episódio grosseiro será acrescentado ao histórico de idiossincrasias do poder nada republicano, no qual ou temos um ministro do Supremo que é um reles chicaneiro ou, então, temos um ministro que é irresponsável a ponto de proferir injúrias difamantes contra um seu colega em plena sessão magna. A questão que nos fica para reflexão é se o tribunal maior do país comporta decentemente a presença de um chicaneiro ou, caso não o seja, se permanecerá em seus quadros um ministro que mente e injuria por qualquer dá aquela palha.