Total de visualizações de página

domingo, 28 de setembro de 2014

NAVALHAS E PUNHAIS 2
Marcelo Cavalcante & César Ceará

EU QUERIA NÃO QUERER
PODER VIVENCIAR
PERDER O DESPERTAR / DO HUMANO
NO PLANO DO PODER
TEMER TANTO QUERER
REVER O DNA/ NO PROFANO

E PROMOVER A GENTE / INDECENTE
DANOS COMERCIAIS
E BATER DE FRENTE / COM OS DEMENTES
DONOS DOS TRIBUNAIS

FUNCIONÁRIOS / CORISTAS
BANCÁRIOS / ARRIVISTAS
ALPINISTAS SOCIAIS

DESCACETADOS / ARTISTAS
MAGISTRADOS / AUTISTAS
MALABARISTAS OFICIAIS

FANTASIAS, CANDURAS MEDICINAIS
PRA MOSTRAR
QUE A TORTURA É NOITE ESCURA SUA JURA
A FERIDA TANTO CURA QUANTO DURA
E ATURA A SINECURA DOS TRIBUNAIS

QUANDO O RICO IMAGINAR
FAVELAS PRA MORAR / NEM LEMBRE
A JUSTIÇA A VADIAR
A LEI SEM UM LUGAR / NEM LEMBRE

E CANTAR REPENTES / SALIENTES
POR CONTA DOS RECITAIS
E FICAR CONTENTE / NO BATENTE
PENITENTES INFORMAIS

BANDOLEIROS / SACANAS
BICHEIROS / DOIDIVANAS
DOS VELHOS CARNAVAIS

IGREJAS / GUERRA SANTA
PELEJAS / SACRIPANTAS
(FEITOS) E EFEITOS COLATERAIS

PARCERIAS, PARENTES E COMENSAIS
PRA JULGAR
PELO PORRE / AGUARDENTE QUE SOCORRE
PELO POBRE INDIGENTE QUE NÃO CORRE
E QUE MORRE DE CONTENTE EM SEUS FUNERAIS


CONGRESSO DE CURRIOLA
CONFESSO, MELHOR IR EMBORA
JACU PRA CANTAR DEMORA

BEÓCIOS DO EMBROMA-ENROLA
PUNKS ENTRANDO DE SOLA
PARAÍBAS NA ESMOLA.

CRETINOS ABSOLVEM CULPADOS
SEUS DESTINOS POR UNS TROCADOS
DESATINOS FILOSOFAIS

MENINOS COMEM LUZ ESFOMEADOS
SÃO ARRIMOS NOS SEUS TRANÇADOS
VENDENDO BALAS NOS SINAIS

E COMO DIZ O VELHO DITADO
POVO ACOSTUMADO A SER GADO
NÃO CUMPRE OS (SEUS) IDEAIS

E AÍ, FAZER O QUÊ?
DORMIR, MORRER?


VOZES: Mano Ferreira, Giovanna Perasol, Ricardo Ciarlini, Rogério Rebello, César Ceará, Paulo Maia

GUITARRA; Léo Castro
VIOLÕES: Alexandre Guichard
CONTRABAIXOE BATERIA: EdsonTeixeira


https://www.youtube.com/watch?v=X_F5T9-b4O8

NAVALHAS E PUNHAIS - Música

NAVALHAS E PUNHAIS
Marcelo Cavalcante
César Ceará

quando o dia amanhecer
me lembre de te ver
gostosa na tv / me lembre
todo reino ensandecer
pra gente conhecer
a guerra em dvd / me lembre
de falar de fome / codinome / e coisas sociais
de dizer os nomes / ipsilones / desses boçais

calvários / muçulmanos
incendiários / carcamanos
americanos dos mísseis e missais
brasileiros / otários
pandeiros / romários
cucarachas e mundos desiguais

cantorias, navalhas e punhais
pra lembrar
que a vida é doce pra quem ganha
mesmo dia mesma manha
alegria de quem sonha / carnavais

eu podia recolher
latinhas pra vender / miséria
e queria conhecer
a moça que me vê / na mídia
e clamar por deuses / nos desertos / credos universais
e achar profetas / espertos / messias infernais

romeiros / hermanos
posseiros / enganos
mentiras ideais
maconheiros / paisanos
puteiros / tantos anos
perdidos em sonhos genitais

romarias, canalhas e tropicais
pra chorar
pelo riso, todo o povo que assanha
velho rio todo novo que nos banha
nessa luta, nessa sanha / de ocidentais

negócios da coca-cola
motoboys / chiclete de bola
vontade de cheirar cola
imbecis invadem angola
somos nós no jogo de bola
fugindo da escola
esses putos fodem o mundo
de marias e raimundos
em frios funerais
esses frutos tão cretinos
são tocar de sinos
hinos sobrenaturais.
esses lutos são os meninos
de goretes e severinos
em dores terminais
e aí / fazer o quê? / dormir? morrer?

Voz: César Ceará / Roberta Monção / Paulinho Português / Ricardo Ciarlini
Vocal: André Gonçalves
Guitarra: Gambá
Violão: César Ceará
Teclados: André Gonçalves
Baixo e bateria: Edson Teixeira
Arranjo: Edson Teixeira
Percussão: Zé Batera
Pandeirola: Bimbinho


https://www.youtube.com/watch?v=toUEimdivKg

NA ALCOVA

Formosa e diáfana visão de lenda,
Elsa, subindo o leito de escarlata,
o cortinado cerra, e a rir, desvenda
a alva nudez escultural e exata.

Antes que o fino laço se desprenda,
a loura coma em ondas se desata,
e a moça esconde em flóculos de renda
o régio corpo modelado em prata.

Doce perfume o colo lhe embalsama...
Abrindo as asas de rubi e lhama,
olha-a, entre flores, um cupido louro...

Cerra, afinal, as pálpebras de neve,
e o sonho desce, e estende, leve, leve,

sobre o leito o estrelado manto de ouro...


Zeferino Brazil

ZELOS

De leve, beijo as suas mãos pequenas,
alvas, de neve, e, logo, um doce, um breve,
fino rubor lhe tinge a face, apenas
de leve beijo as suas mãos de neve.

Ela vive entre lírios e açucenas,
e o vento a beija, e, corno o vento, deve
ser o meu beijo em suas mãos serenas,
— Tão leve o beijo, como o vento é leve.. .

Que essa divina flor, que é tão suave,
ama o que é leve, como um leve adejo
de vento ou como um garganteio de ave,

e já me basta, para meu tormento,
saber que o vento a beija, e que o meu beijo
nunca será tão leve como o vento.. .
FORMOSURA IDEAL


Esta visão que em sonhos me aparece,
e que, mesmo sonhando, me resiste,
por que foge, por que desaparece,
mal eu desperto, apaixonado e triste?

Por que, branca e formosa resplandece
como uma estrela, e a torturar-me insiste,
se é certo, - oh! dor cruel que me enlouquece!...
que ela somente no meu sonho existe?

Cheia de luz e de pureza e graça,
- alma de flor e coração de estrela -
ela, sorrindo, nos meus sonhos passa...

E sempre a mesma angústia dolorida:
branca e formosa dentro d´alma tê-la,
sem poder dar-lhe forma e dar-lhe vida!



 Zeferino Brazil

Zeferino Brazil - Príncipe dos poetas Rio Grandenses

Zeferino Antônio de Souza Brazil, filho de João Antonio de Souza e de Fausta Carolina de Souza, nasceu em 24 de abril de 1870, em Porto Grande, distrito ribeirinho de Taquari. Em 1879, mudou-se para a capital provincial do Rio Grande do Sul, onde exerceu diversas funções até ingressar, em 17 de agosto de 1889, através de concurso, no funcionalismo público, como oficial do Tesouro do Estado. Em 1890, conheceu Celina Ribeiro Totta, com quem se casou em 1891. Zeferino Brazil firmou-se como cronista, romancista, dramaturgo, crítico, mas a sua marca pessoal, como artista da palavra, foi a poesia, obtendo, por isso, o epíteto “Príncipe dos poetas rio-grandenses”, devido à sua expressiva e notória sensibilidade poética: “romancista de vastos recursos, prosador imaginoso e ágil, lidador da imprensa diária, humorista fino e mordaz, orador elegante e fluente, tudo isto Zeferino Brasil (sic) conseguiu ser! O Poeta, porém, constituía o feitio integral daquele espírito cheio de harmonias e de doçuras infindas!”, conforme Augusto de Carvalho. Colaborou com vários jornais usando, além do nome Zeferino Brazil, vários pseudônimos, dentre eles, conforme o próprio autor: Nilo Castanheira, João Simplício, Lúcifer, Til, João da Ega, Eça de Oliveira, Brás Patife Júnior, José dos Cantinhos, Zézinho, Tic, Tac e Diabo Coxo, no Jornal do Comércio; Eça de Oliveira, Diabo Coxo, Celino Délio, Vasco de Montarroyos, NC, Phoebus de Montalvão e Diávolo, no Correio do Povo; Luiz Deniz na primeira fase da Última Hora e na Gazeta do Comércio. Entre muitos livros publicados, encontram-se: Alegros e surdinas (versos dos 15 anos) – 1891, em Porto Alegre, pela Livraria Americana; Traços cor de rosa (verso) – 1892, em Porto Alegre, por Oficinas tipográficas do Jornal do Comércio. Comédia da Vida – 1896-1897, em Porto Alegre, pela Tipografia Jornal do Comércio; Juca, o letrado (estudo da psicologia mórbida) – 1900, em Porto Alegre, pela Tipografia do Correio do Povo; Vovó musa – 1903, em Porto Alegre, por Brasil Meridional; Visão do ópio – 1906, em Porto Alegre, por L. P. Barcellos & Cia. - Livraria do Globo; Torre de marfim – 1910, Porto Alegre, pelas Oficinas da Livraria do Globo; Comédia da vida. Versos alegres para gente triste. 2ª série. – 1914, Porto Alegre, pelas Oficinas tipográficas de Carlos Echenique...