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sexta-feira, 3 de abril de 2015

Catulo da Paixão Cearense - TERRA CAIDA

Ao insígne Mário-José de Almeida

 (1ª. Parte)

FAZ hoje sete janêro,
que eu dêxei o Ciará,
e rumei lá pró Amazona,
a terra dos siringá.

N’aquelas mata bravia,
lá, nos centro arritirado,
as arve tem munto leite,
mas nós já tâmo cansado!

O inverno, n’aquele inferno,
é uma grande infernação!
No inverno não se trabaia,
que é o tempo da alagação.

Isperei. Veio o verão.

É mais mió não falá!...
Tu qué sabe, meu amigo,
o que é os siringá?!

É trabaiá... Trabaiá!
É um hôme se individá!
É vive n’uma barraca,
n’um miserave casebre
e sé ferrado da febre,
que anda danada prú lá!

É trabaiá, trabaiá,
dendê que rompe a minhã,
prá de dia sé chupado
pulo piúm, que é marvado,
e de noite sé sangrado
pulo tá carapanã!!

É um hôme dá todo o sangue
pró mardito do piúm,
e vortá mais disgraçado,
cumo eu — o Chico Mindélo,
duente, feio e amarelo,
cumo a frô do girimúm.

Ansim, lá dos siringá,
no fim de três, de três ano,
sem um vintém ajuntá,
ia vortá prá Manáu,
tândo fixe na tenção
de Manáu vim pró sertão
do meu quirido Ciará.

Apois!... siguindo os consêio
que me dava o coração,

arrêzôrvi não vortá!