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sexta-feira, 5 de julho de 2013

A canção do africano - Castro Alves


Lá na úmida senzala, Sentado na estreita sala, Junto ao braseiro, no chão, Entoa o escravo o seu canto, E ao cantar correm-lhe em pranto Saudades do seu torrão ... De um lado, uma negra escrava Os olhos no filho crava, 
Que tem no colo a embalar... E à meia voz lá responde Ao canto, e o filhinho esconde, 
Talvez pra não o escutar! "Minha terra é lá bem longe, Das bandas de onde o sol vem; 
Esta terra é mais bonita, Mas à outra eu quero bem! "0 sol faz lá tudo em fogo, 
Faz em brasa toda a areia; Ninguém sabe como é belo Ver de tarde a papa-ceia! "Aquelas terras tão grandes, 
Tão compridas como o mar, Com suas poucas palmeiras Dão vontade de pensar ... "Lá todos vivem felizes, 
Todos dançam no terreiro; A gente lá não se vende Como aqui, só por dinheiro". O escravo calou a fala, Porque na úmida sala O fogo estava a apagar;
 E a escrava acabou seu canto, Pra não acordar com o pranto O seu filhinho a sonhar!

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