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quarta-feira, 24 de julho de 2013

As gritantes contradições em torno da simplicidade do papa

A fé aprisiona mais do que liberta, na medida em que faz o seu portador enxergar como verdadeiros os frutos dos seus desejos ao invés da realidade que se estampa diante os seus olhos. A fé obnubila os sentidos e faz com que o crente exercite raciocínios mirabolantes quando o que acredita se apresenta sem sentido ou explicação lógica. A fé mergulha a humanidade num efeito tostines, infantil e debiloide, na medida em que preconiza uma infalibilidade baseada em palavras vazias do tipo: o cidadão reza para deus curar o câncer materno, se ela obtém uma melhora, foi deus, se ela piora, deus sabe o que está fazendo, afinal ele escreve por linhas tortas. Fico imaginando se as sociedades em geral fossem nortear as suas relações materiais baseadas nesta estultícia. Não sobraria pedra sobre pedra...
Em sua homilia, proferida na missa em Aparecida, o papa Francisco critica “o fascínio de tantos ídolos que se colocam no lugar de Deus e parecem dar a esperança: o dinheiro, o poder, o sucesso, o prazer”.
A frase está correta e a crítica é justa. O que destoa é o fato de que o próprio para Francisco é fruto dessa idolatria, que foi conseguida através dos mesmos artifícios usados pelas Madonnas e Brad Pitts da vida.
Não sei quais os marqueteiros que atendem o Vaticano, quais emprestam os seus préstimos prestidigitadores ao papa, mas usam os mesmos métodos midiáticos. Imagino que, dessa vez, farejaram os ares taciturnos e revoltosos que sombreiam um mundo de misérias e desigualdades e resolveram criar uma imagem de um papa livre, leve e solto, um papa light, com ares de franciscano sobre o qual a simplicidade transborda por todos os poros. Pode ser até que uma pessoa muito rica e poderosa tenha hábitos simples, mas terá sempre em seu entorno (e quando necessário) o poder e a riqueza ao seu dispor. Isso só não acontecerá se o tal ricaço poderoso, a exemplo de Buda, renunciar formal e legalmente aos bens e poderes.
A realidade mais concreta é que o papa tem poderes plenipotenciários (legislativo, executivo e judiciário) sobre um estado que, apesar de minúsculo, goza de todos os direitos no concerto das nações. A dura realidade é que este estado tem menos de 500 habitantes residentes e mantém um palácio (papal) com mais de mil quartos. Aliás, segundo dizem, o indigitado palácio tem: “5 mil quartos, duzentas salas de espera, 22 pátios, cem gabinetes de leitura, trezentas casas de banho e dezenas de outras dependências destinadas a recepções diplomáticas”.
Dessa forma, haja fé para crer que o comandante de tais poderes e riquezas é um cucaracha portenho, simpático e simples.

Marcelo Cavalcante

3 comentários:

  1. Olá amigos =)
    A minha posição a respeito é a seguinte:
    O texto tem seus lapsos de verdade, porém o seu autor esquece-se que ele próprio tem fé em algo. O que acontece é que a fé dele não é a religiosa, mas sim a fé expressa pelo Materialismo. Essa frase que ele coloca aqui é emblemática demais para mim, que estudo vida após a morte, e me deparo sempre com argumentos Materialistas dos mais absurdos e inverossímeis:

    "A fé aprisiona mais do que liberta, na medida em que faz o seu portador enxergar como verdadeiros os frutos dos seus desejos ao invés da realidade que se estampa diante os seus olhos. A fé obnubila os sentidos e faz com que o crente exercite raciocínios mirabolantes quando o que acredita se apresenta sem sentido ou explicação lógica."

    Isso que ele disse acima é perfeitamente aplicável aos argumentos materialistas que visam sofismar as grandes pesquisas em torno da vida após a morte. O que ele faz é algo que é muito comum hoje em dia: considerar o Materialismo como a realidade existencial, o que é um erro sutil de percepção da realidade, fruto da ignorância ou mesmo da desonestidade intelectual.

    Nunca me canso ou me cansarei de dizer isso: não há mais lugar para o Materialismo para aquele que estuda. O Materialismo, há muito, deixou de ser algo que procura compreender a realidade, para se transformar numa espécie de partido de oposição à Religião.

    Quanto ao papa, acredito que talvez ele tenha sim sua parcela de simplicidade, mas longe, muito longe do que querem transparecer na TV, que mais procura audiência agradando a maior parte da população brasileira que é de católicos. O que muitas pessoas esquecem é que o papa é um chefe de Estado, por isso um político em potencial. A Dilma não o recebeu por ele ser o "Representante de Deus na Terra", mas por uma mera questão de política. Uma coisa que me pergunto é: por que as pessoas começam a idolatrar uma pessoa no minuto seguinte que descobrem que ela é papa ? De onde vem esse amor ? qual a origem ? é sincero ? é necessário ? Papa é apenas um título e tratar pessoas diferentemente por seus títulos, na minha opinião, mais parece questão de interesses. Aprendamos a ver o essencial, ninguém deve ser considerado o norteador dos seus atos, a não ser a Natureza e a sua própria consciência. Sejamos Livres !

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  2. Tenho procurado me abster de cinismo em relação ao Papa, mas também tenho me perguntado se ele é realmente uma pessoas simples e espontânea ou se tudo não é apenas uma jogada de marketing já que o dito cujo é jesuíta (ordem que já deu muito o que falar ...). Estou esperando o frio diminuir para ir comprar um livro que certamente me informará melhor: Instruções Secretas dos Jesuítas
    abraços

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  3. Bem,
    Em princípio, o texto, assim como todo texto, deve ser objeto de reflexão. Daí a sua validade.
    Penso que fé é bem diferente de religião.
    E no caso do Papa, as duas coisas se misturam.
    Não tenho bagagem teórica para debater sobre o assunto. Mas, não me esqueço “Da História da Riqueza do Homem”, que li, reli e continuarei lendo. Creio que todos os católicos deveriam ler, assim entenderia melhor o lado material da Santa Madre Igreja, já que a espiritual nenhuma religião consegue explicar completamente, já que insistem em ver o ser humano em pedacinhos bem separado.
    Atena, assim como você, estou curiosa. Comprei o livro sobre a história do Francisco, para tentar entender algumas coisas.
    É isso, por enquanto... rsrsrs
    Um abraço para todos e todas.

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